Em Fornelo, aonde a rede do telemóvel mal chega, há uma preciosidade escondida no barracão verde-água de portões vermelhos. À primeira vista, ninguém diria o que é aquela estrutura metálica a repousar num canto enegrecido. A mestre-de-cerimónias, felizmente, desfaz as dúvidas. “Esta é que é a famosa panela-wok”, apresenta. A história tem laivos trágicos. Quando visitou os Morimoto pela primeira vez no Japão, Nina recebeu de presente um wok, uma grande e pesada panela de ferro fundido, em que o casal tinha produzido o seu primeiro chá, há mais de 40 anos. Ficou radiante, claro. E trouxe a dádiva para Portugal, fazendo-se valer do seu japonês (para explicar tão estranha bagagem. Mas quando aterrou no Porto, ao fim de 36 horas de viagem, apercebeu-se que o wok tinha partido. “Chorei imenso, foi dos momentos mais terríveis da minha vida, porque era a primeira panela deles, o meu primeiro instrumento de produção”, lamenta. Dias depois, ainda a digerir a desilusão, encontrou alguém que, com “muita paciência”, fez um “milagre” ao soldar o triângulo em falta. “E ficou lindíssimo”, afirma, entusiasmada, para depois aludir à kintsugi, a arte japonesa de reparar com ouro fissuras na cerâmica. “Torna uma parte avariada, sem valor, numa coisa ainda mais valiosa, super especial”, descreve. “Como a nossa panela kintsugi.” Onde fazem o próprio chá.